|
 |
|
Medo de envelhecer
28/05/2010 - 02h23m
Medo de envelhecer
Quem tem medo de envelhecer tem medo de ficar velho, de estar mais "próximo" da morte, ou é mais por querer ser jovem para sempre?
Todos nós sabemos e Cazuza já cantava que "o tempo não para", e sabemos também que há possibilidade de encantamento em todas as fases das nossas vidas, então por que para algumas pessoas é tão difícil aceitar essa inevitável situação?
Ouvindo essas pessoas, percebemos que há realmente um "medo de perda" - medo de perder a juventude, a beleza, o charme, o poder de conquistar... Então podemos pensar que esse medo de envelhecer passa pela fantasia, pela idealização de que sem um corpo perfeito, sem um charme diário, não se vai conquistar, não se vai ter nada do que é bom na vida.
Daí vemos aquelas pessoas que se recusando envelhecer, assumem aqueles papéis que imaginam que vá lhes dar o elixir da juventude: separam de seus antigos parceiros e se unem a outros bem mais novos, as vezes com metade de suas idades, compram motos, trocam o modo de se vestirem, trocam o jeito de falarem, mudam até de amigos, tudo isso numa tentativa desesperada de "parar o tempo" - como se fazendo assim fosse possível não envelhecer.
Vemos também aqueles que estão sempre perseguindo as grandes emoções, as grandes escaladas, os grandes saltos, mas que fazem isso de uma forma evitativa, pois os laços que os unem as outras pessoas são mais frágeis, pois parecem ser mais no sentido de evitarem uma rotina de trabalho, de vida mesmo, que lhes parece insuportável.
Não vendo beleza no envelhecimento, não conseguem aceita-lo.
Nossa cultura, que valoriza muito o corpo, a juventude, a beleza física, e que não valoriza muito a beleza que há na maturidade e não dá muito espaço para as idéias vivenciadas pelos mais velhos, também nos leva a desejar nossa eterna juventude e claro ,a temer pelo nosso envelhecimento.
E nós psicanalistas oferecemos um espaço, onde o sujeito possa rever esses conceitos que chegam a ser cruéis em suas cobranças, ou mesmo aos que estão ao redor deles “sofrendo” por se sentirem incapazes de fazer algo que possa reverter essa situação.
Cito o psicanalista Contardo Calligaris: “Como se verifica em qualquer psicoterapia, não adianta recusar nossas caretas. Mesmo que elas nos pareçam grotescas, é melhor aceitá-las, assumi-las, examiná-las com carinho e enxergar nelas as razões possíveis de um apreço. Ou seja, em vez de querer ser outro, é mais interessante inventar o que podemos fazer com o que somos”.
|
|
|
