Ciúmes, inveja, medo de perder, insegurança...
01/04/2011 - 02h47m
CIÚMES
Ciúmes é um sentimento natural e inevitável que todo ser humano possui. Mas em algumas pessoas e em determinadas situações, sabemos que ele toma uma outra forma. Estamos falando então, do ciúme como um sentimento insano, paranóico, patológico, doente.
Ciúmes como um sentimento avassalador, dilacerador - insuportável para quem o sente e perigoso para quem é o alvo dele. Há no ciúme uma grande força destruidora, anunciante de tragédias.
Obviamente, nem todo ciúmes ou nem todo ciumento é “capaz de tudo”.
Sabemos que o ciúme não fica apenas em torno de duas pessoas. Ele é triangular, pois envolve sempre um terceiro, mesmo que suposto. Há sempre um fantasma rondando a situação, ainda que apenas no imaginário de uma dessas pessoas. E isso tem seu começo lá atrás no famoso Complexo de Èdipo que se inicia na primeira infância e pode ficar se repetindo vida afora.
E quem é vítima de um ciumento sabe, é muito difícil conseguir convencer esse sujeito que não há “um outro”. Ele está convencido que há, ele tem a certeza do intruso. E diante de uma iminente ameaça de perda da pessoa amada,” ele faz coisas”.
Diante da grande falta existencial, pela qual todos somos tocados, elegemos pessoas e coisas que nos preenchem e que não podemos nem pensar em ficarmos sem. Idealizamos aquilo que nos completa e quando nos sentimos ameaçados de perder essa completude, também suposta, “enlouquecemos” e nos vemos capazes de coisas inimagináveis.
Sócrates nos diz que o ciumento traz em si “a dor da alma”, Shakespeare nos diz que homens e mulheres ciumentos sofrem do “monstro de olhos verdes” fazendo uma referência à seu personagem Otelo, general mouro de Veneza, que apesar de muito corajoso, mata a própria mulher, Desdêmona, por sentir um ciúme intolerável e incontrolável dela.
Na mitologia grega, encontramos a feiticeira Medéia,que depois de seu Jasão tê-la trocado por uma mulher mais jovem,Creúsa,enlouquece de ciúmes e mata os próprios filhos, numa possível tentativa de fazê-lo sofrer por perdas tanto quanto ela ?
A Bíblia também nos diz que o primeiro crime que se tem registro na história, aconteceu com os irmãos Caim e Abel. Ao serem os dois requisitados a fazerem uma oferenda a Deus, Caim oferece uma cesta de frutas e cereais, já Abel oferece uma ovelha em sacrifício. Caim ao ver a oferenda de Abel a Deus imagina que Este gostará mais da oferta do irmão que da sua e não suportando, mata-o.
O Psiquiatra Dr. Eduardo Ferreira Santos, lançou o livro “Ciúme, o lado amargo do amor” que nos diz também que uma coisa é o ciúme e outra é sentir-se enciumado. Pois é, quem é que nunca se sentiu enciumado a ponto de ter o desejo de ferir de alguma forma seu parceiro, seu irmão, seu colega de trabalho, seu melhor amigo?
Mesmo porque há junto ao ciúme a questão da inveja, da rivalidade.
Nem sempre é fácil lidar com o sucesso de um irmão, do cunhado, do amigo. Supondo que eles possam ter mais, vão gostar mais dele que de nós?
A questão então é procurar pela origem desse sentimento e conseguir encontrar saídas possíveis antes que a angústia, a obsessão tomem conta.
O ciúme no homem está mais ligado ao sexo, na mulher ao afeto. Mas em ambos podemos ver algo da agressividade, da inveja, da insegurança, do medo da rejeição, de ser traído, e da própria sexualidade.
Há no sujeito marcas que o constituem, o que nos leva a pensar que já há um saber de si , um reconhecer -se como alguém “doente de ciúmes” e procurar por ajuda antes que se pense em algo da tragédia ou que não se pense mais se faça a tragédia, nos parece o mais oportuno e à isso a psicanálise oferece seu espaço.
|