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Depressão
13/10/2010 - 18h49m
Depressão
Recentemente, li que depressão é “a dor de existir”. Gostei do conceito porque só quem tem, teve, conhece ou trabalha com alguém diagnosticado com depressão, sabe o que esse sujeito passou ou ainda passa nessa vida.
Mas hoje, a convite da Rede Minas, vou escrever sobre “ o outro lado da depressão” ou corajosamente dizendo, vou falar do “lado bom da depressão”. Acho que é preciso mesmo ter coragem para dizer que esse lado existe e a minha vem da conhecida expressão popular que diz: “crise é igual a oportunidade”. É aqui que vejo esse lado bom da depressão, como pessoa, como psicanalista e acho mesmo que é preciso acreditar que ele existe para que se possa apostar mais nele.
Existem depressões chamadas de reativas ou seja, aquelas que aparecem logo após um evento traumático ou que mesmo depois de um tempo, ainda se sabe estar ligada a esse evento. Por exemplo: Depois da morte de fulano...depois que perdi o emprego em determinado lugar...nunca mais fui o mesmo e comecei então a ter depressão.
Mas existem também aquelas depressões, onde não se é possível localizar um início. É quando a pessoa diz por ex: Eu tenho tudo, não me falta nada, mas mesmo assim.....estou deprimida.
Sendo reativa ou não, temos um sintoma, e queremos saber da causa dessa depressão. Causa que as vezes a própria pessoa desconhece. Causa que se trata, e não que se ignora.
Evidentemente, para que se tenha um diagnóstico "psi" é preciso que seja por exclusão orgânica/ metabólica. Isso quer dizer que se o sujeito em questão não estiver com uma doença que cause sintomas de depressão, ele está realmente "sofrendo de algo afetivo" ou “da dor de existir”.
Então não estamos dizendo que esse sofrimento lhe seja bom, mas se for essa a única maneira que o sujeito teve de "pedir um socorro", penso que já está valendo, pois já há algo bom começando a acontecer. Normalmente o sujeito deprimido mobiliza a família com seu sintoma. Na maioria das vezes ele não chega só em nossos consultórios, mesmo porque na depressão o poder de iniciativa sempre está rebaixado. Aqui temos um outro possível ganho. É bem possível que a família olhe para o sujeito deprimido com um novo olhar, passa a levá-lo mais a sério.
Também ao começar a dizer sobre si, mesmo sem saber direito como, ele se abre para aquilo que é a causa de todo o seu sofrimento. Então temos a oportunidade de ver que pequenas mudanças causam grandes efeitos. Novas oportunidades podem começar a ocorrer com o sujeito em depressão, para melhor. Mudanças de carreira, aprender a dizer não, saber de seu desejo para que possa haver novos começos daquilo que lhe faz bem...trocar de parceiros amorosos, romper silêncios opressores, e inclusive, saber do porque de sua depressão.
Trabalhamos também com nossos clientes, que há um ócio na depressão na qual ele entra que pode ser criativo, ou seja, sabemos que grandes pintores,escultores, compositores, dão o melhor de si em momentos de crise.
Homens apáticos, quietos no canto, amedrontados, mulheres comprando demais, comendo demais, chorando demais não leva a bons lugares, mas o que eles podem fazer com o que sentem, isso sim, pode os colocar em um lugar melhor,melhor mesmo que antes da depressão. É essa a nossa aposta diária. Está aqui a nossa coragem de dizer que mesmo na depressão, há possibilidade de dias melhores.
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