Contos de fadas â?? O benefÃcio deles [Jornal O Estado RJ]
17/06/2010 - 21h16m
O mundo mágico das famosas histórias de príncipes e fadas contadas há séculos carregam uma função que vai além de entreter e divertir o público infantil. Contos clássicos como Chapeuzinho Vermelho, Bela Adormecida e Os Três Porquinhos são capazes de construir nas crianças significados positivos e despertar o conhecimento de si mesmas, favorecendo diretamente no desenvolvimento de sua personalidade.
Para dominar os problemas psicológicos do crescimento, tais como as rivalidades fraternas e dependências infantis, as crianças devem obter um sentimento de individualidade e de autovalorização. Para isso, elas precisam entender o que está se passando dentro de seu inconsciente. E é justamente aí que os contos de fadas podem fazer a diferença. Segundo Bruno Bettelhein, terapeuta de crianças gravemente perturbadas e autor do livro “A Psicanálise dos Contos de Fadas”, através dos séculos os contos de fadas foram se tornando cada vez mais refinados, capazes de falar simultaneamente a todos os níveis da personalidade humana, comunicando de uma maneira que atinge a mente ingênua da criança.
Abordando os problemas universais, particularmente aqueles que preocupam a mente dos pequenos, os contos falam de pressões internas de tal modo que a criança pode compreendê-la inconscientemente e ainda obter soluções para suas dificuldades. De acordo com a psicanalista Maraísa Abrahão, alguns adultos podem considerar os contos irreais e fantasiosos, mas é exatamente por isso que ele age de forma positiva nas crianças. “O mundo da criança é mágico, é fantasioso”, lembra.
Segundo a psicanalista, os contos de fadas têm como características o começo, meio e fim, e sempre falam de um dilema existencial. “A história da cinderela, por exemplo, fala de rivalidade fraterna, desejo que se torna realidade, pessoas humildes que vencem, mérito sendo reconhecido e maldade castigada”, revela. A psicanalista explica que, se naquele momento a criança está vivenciando algumas dessas situações ela poderá se identificar e liberar suas emoções. “Quando vai nascer um irmãozinho por exemplo. A criança está sentindo medo de perder os pais, medo do que o irmão possa fazer. Quando ela escuta o conto, depois de se identificar ela vai acreditar que no final ela pode vencer”, explica.
As histórias modernas
A maioria da literatura infantil atual é escrita de forma a evitar os problemas existenciais. Essas histórias, que visam somente o entretenimento e distração, não mencionam questões cruciais para o desenvolvimento, tais como o envelhecimento, morte, relações pessoais e dilemas individuais. E as crianças necessitam que lhes sejam dadas sugestões simbólicas de como ela pode lidar com essas questões e ser “feliz para sempre”.
Os contos de fadas, ao contrário disso, confronta a criança com vários problemas humanos básicos e propõe, no fim, um desfecho positivo. Segundo Bruno, a função principal é essa. “Os contos de fadas transmitem à criança que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana - mas que se a pessoa não se intimida e se defronta de modo firme com as opressões inesperadas e muitas vezes injustas, ela dominará todos os obstáculos e, ao fim, emergirá vitoriosa”, completa.
Fonte: O Estado RJ
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